DO SONHO À REALIDADE

Naquele tempo, quando chegava um iate à nossa doca, as pessoas iam ver o AVENTUREIRO que tinha chegado. Tratava-se sempre dum acontecimento importante. Falava-se disto e daquilo. Alguns admiravam-se com o tamanho daqueles mastros ou ainda com a pequenez de alguns destes barcos. Olhava-se para as pessoas com curiosidade e admiração.

Quando me era possível, lá ia à doca e procurava estabelecer conversa com alguns aventureiros. Aprendi francês e inglês no Liceu Nacional da Horta  com a excepcional professora, que graciosamente me ensinou, a Srª Lídia Lacerda.

Admirava aqueles barcos, procurava saber a nacionalidade, de onde vinham, para onde iam e quantos dias de viagem, que ventos tinham encontrado…

Foi assim que tive o grato prazer de conhecer um dos maiores navegadores MARCEL BARDIAUX, o único homem a fazer 4 viagem de circum-navegação (sendo uma delas sem escalas) passado sempre pelo Cabo Horn.

Guardo com muita estima os livros que escreveu e me ofereceu.

Guardo também os seus ensinamentos, em parte fruto das conversas que mantive com este admirável homem.

Mas, naquele tempo, em 1961 pratiquei alguma vela nos lúzitos da Mocidade Portuguesa, embora estes fossem poucos (recordo-me de 3) e como era novo naquelas lides, raramente tinha barco disponível.

No Verão de 1963 com os meus 12 anos, resolvi construir a minha primeira embarcação. E o sonho foi tomando forma. Ao longo dos anos fui recolhendo informações e alguns documentos (cartas, livros, etc) assim como utensílios que sabia um dia seriam necessários (seixtante, relógio, barómetro, rádio de HF etc). Também escudo a escudo, fui reunindo a importância necessária para a aquisição do HEMINGWAY.

 No dia 28 de Outubro de 2000, pelas 09horas teve início esta maravilhosa aventura. O meu barco, o dos meus sonhos, saiu do Porto da Horta, rumo a Oeste, tendo como destino este mesmo porto, onde chegaremos em Maio de 2002, depois de percorridas aproximadamente 28.000 milhas. E o sonho torna-se realidade!

Desejo sinceramente, muito sinceramente, que os meus leitores e amigos realizem no Ano Novo, algum ou alguns dos sonhos que certamente acalentam. Talvez uma casa…talvez um carro….talvez aquela viagem sempre adiada…talvez o totoloto…talvez a (o) namorado (a) com que sonharam!

Sonhos à medida e ao gosto de cada um.

        Boas Festas e Feliz 2002

        Durban, 19 de Dezembro de 2001
        Genuíno Alexandre Goulart Madruga