ÁFRICA, ADEUS

 

Cheguei a África, Durban, em dia de todos os Santos.

Trazia na alma ou melhor no coração a tristeza, a dor que me atormentava! O Hemingway navegava sem as suas velas, como pássaros sem asas! Aquelas velas que me levaram por continentes e ilhas, agora jaziam para sempre nas profundezas do tempestuoso Índico. Foram o meu tributo  pela aventura. Mas cheguei.
Em Durban fui bem recebido, encontrei amigos, amigos que já conheciam o meu sonho. Jamais esquecerei a família Pereira.

Durban é uma cidade grande, com todos os problemas de uma grande cidade. Têm centros comerciais, ruas bem concebidas, monumentos e museus de qualidade. Destaco o museu de História Natural onde podemos ver parte dos fósseis encontrados neste imenso país e relacionado com a evolução do Homem. Durban do south nort, beach a Califórnia da África. Durban com ruas cheias de vida durante o dia, gente que vai e vem, que compra e vende, gente magra ou gorda...de incertezas. Durban com marina só para brancos. Fiz novos amigos. Procurei e encontrei na gente simples, no meio daquelas que tal como eu conhecem  o mar. Parti.

Já o Hemingway estava de novo aprestado para a viagem.

Segui rumo a Port Elizabeth. Percorridas 370 milhas. Cheguei.

Visitei museu, igrejas e templos. Tirei fotos junto ao monumento aos marinheiros Portugueses que procuraram por PRESTE JOÃO em 1145 e 1650. Falei com refugiados da Somália, procurei saber como viviam. Guardo uma foto da AYAN, com os seus 17 anos e muçulmana a preceito me suplicou que lhe arranjasse um VISA para qualquer parte uma vez que ali não havia futuro. Tive que lhe dizer adeus!...

Segui meu caminho sem voltar a vê-la. Já o havia feito antes. Recordo os olhos da Nocolunga, da Zintla...do Opa, do Eliau, da Dudu! Olhos da África, da África que sofre a pior das escravaturas! Outros foram levados para locais e terras distantes, agora são escravos na sua própria terra! Chamaram-lhe APARTHEITH, agora são desempregados, refugiados, enfim, mão-de-obra sempre disponível e barata que trabalha pelo arroz, sem quaisquer direitos que sobrevivem, alguns visitando(um caixote de lixo junto ao restaurante é sempre um privilégio) vi gente comendo o resto, o lixo dos outros...

Segui rumo a MOSSELBAY. Procurava e encontrei a presença portuguesa. Lá estava a caravela Bartolomeu Dias (Que vi zarpar de Lisboa em 1985), a rua Dias, o restaurante Dias, a praça Dias, o museu Dias.

Em Mosselbay tudo está relacionado com a chegada e passagem dos Portugueses por terras de África. Fui muito bem recebido e tratado. Em Mosselbay fiz amigos que jamais esquecerei.

Parti com lágrimas nos olhos. Outros me olharam da mesma maneira!

O Hemingway seguiu rumo à cidade do Cabo. Passamos o Cabo das Agulhas da Boa Esperança, e lá estamos novamente no Atlântico. Avistamos Cagarros!!! Já não as via há muito.

Estava de volta, agora é só seguir para casa.

África de lagos e montanhas com neve, de dunas até ao mar.

África, os teus filhos morrem com fome ou sida.

Os teus diamantes, o teu ouro negro ou não é vendido em N.York ou Antuèrpia. O "amigo" do Norte fala de Democracia e não permite que respires o ar da Liberdade.

África com o teu exercício de TOTSIES e prostitutas.

Que soprem ventos de Norte, do Sul, de Leste ou Oeste.

Que soprem de qualquer lado ventos de LIBERDADE.

 

ÁFRICA...ADEUS.

                      

                   Cape Town,05 de Fevereiro 2002

                   Genuino Alexandre Goulart Madruga

 

 

Obs: TOTSIES  Criminosos de toda a espécie que vivem do crime violento ou não.