A CAMINHO DE CASA

 

Saí de África do Sul rumo à ilha de Stª Helena, no dia 07 de Fevereiro de 2002. O vento era variável ou seja, pela manhã fraco e à tarde fresco, mas sempre favorável. Logo no primeiro dia apanhei um atum voador. A temperatura da água era 15º e a do ar 19º. Liguei o rádio e procurei sintonizar a Rádio Exterior de Espanha ( 21.570KHz).

Preparei um lombo de atum com cebola, tomate, algumas batatas, azeite, vinho branco e asseio no forno. Ficou óptimo e daria para 6 pessoas.

A R.E.E. transmitia o programa "Mundo Solidário". Falava-se da pobreza que aumentava no mundo - cada vez os ricos são mais ricos. Virei os meus olhos mais uma vez para lestes sobre a poupa do HEMINGWAY e avistei, já com alguma dificuldade, as montanhas de África.

Entretanto o meu peixe cheirava bem.

Mas havia tristeza e o meu coração estava apertado; como é possível que no século XXI, quando navego com a ajuda de satélites e computador, quando já pisamos solo lunar, sim, como é possível que os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres cada vez em maior número ?!

No dia seguinte voltei a pescar dois atuns. Naquela zona havia peixe e a temperatura da água subia constantemente.

Das iniciais 1690 milhas, já só faltavam 1483.

Passavam-se as milhas e os dias e o calor aumentava.

Após me ter afastado o suficiente da costa Africana, deixei de avistar navios.

Estávamos novamente sós - Eu e o HEMINGWAY.

Pela manhã do dia 20 de Fevereiro avistei a ilha. A aproximação é fácil. Procurei o porto de JAMESTOWN e pelas 20 horas larguei ferro.

Aguardei a vinda a bordo das autoridades o que só aconteceu no dia seguinte. Tudo decorreu na maior cordialidade.

A cidade (?) de Jamestown fica num vale entre duas montanhas rochosas. O porto é o prolongamento mar adentro desse vale. As casas são de 1 ou 2 pisos construídas com muita pedra, as ruas são geralmente estreitas, pois foram feitas partindo rocha.

A ilha de Stª Helena é na verdade quase só rocha. Vista do mar é muito inóspita e não se vislumbra qualquer vegetação. Vegetação só no interior da ilha. Em diversos locais podem ver-se fortificações que atestam bem a importância desta ilha ao longo dos tempos.

Visitei a casa onde Napoleão passou os últimos dias.

Para entrar ou sair de Stª Helena só de barco. Não têm aeroporto. De seis em seis semanas chega um navio a Stª Helena.

A ilha fica a 3.500 milhas a sul do Monte da Guia.

Têm uma população de cerca de 5.000 pessoas das quais mais de 4.000 são mulheres.

Enquanto nas nossas ilhas imigra toda a família em Stª Helena são os homens que partem. Ficam as mulheres a tratar da restante família e dos haveres. Por todo o lado são só mulheres: na polícia, na alfândega, no comércio etc. São muito amáveis.

O clima é tropical. Não têm tempestades nem tremores de terra.

A única "indústria" é a pesca artesanal, muito artesanal, só pescam junto á costa com pequenas embarcações de boca aberta.

Na costa grande quantidade de lapas e caranguejos. Os SANTOS ou melhor as SANTAS (assim se chamam os residentes) não comem lapas. Eu comi e eram iguais às nossas.

Após 5 dias nesta ilha, parti rumo ao Arquipélago Brasileiro de Fernando de Noronha.

Antes de finalizar, é minha obrigação referi a calorosa recepção que tive em MOSSELBAY e CAPE TOWN. Na primeira e  enquanto lá estive, a bandeira dos Açores e a do Clube Naval Horta estiveram asteadas junto com a da África do Sul.

Em C.Town fui convidado para um jantar no Yacth Club onde falei das nossas ilhas e nosso porto.

 

Na verdade, no passado os Portugueses deram novos mundos aos mundos. Hoje, felizmente que muitos por esse mundo fora não o esqueceram.   

                   

                        Fortaleza, Março de 2002

                       Genuíno Alexandre Goulart Madruga